sexta-feira, 8 de julho de 2011

Amor, só em mim.

Caetaneando, fui sim onde querias não
Segui errando em procissão franciscana
Onde o destino eram o pecado e perdão
Entreguei minha vida em mãos levianas.

Fui cigana em mares secos, vadiei
Naveguei errante em campos verdes
Mil e uma tentativas, noites, errei
Nadei cem léguas e morri. De sede.

Morri algumas vezes, ainda qu'em sonho
Cresci nos alpes solitários,
Distante dos irmãos.

Nasci pra ser paixão,
Eu sempre marquei horário
Assim cheguei, nesse mundo tristonho.


por Camila Reis, sábado, 7 de maio de 2011 às 00:38

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Pista Perdida

Por tê-lo, medo, perdi.
Com o que pude, eu lutei.
Sabes, nem por isso, venci.
Esperavas mais? O Despistei.

O Tempo? Esse eu enganei. Ilusão.
Ah vida! Por mais tentadora, recusei.
Propostas de união, separação, inclusão.
Não me importou o que viria, era tudo não.

Por pouco, achei ter então ganho o que tanto quis.
Em muito deixei a desejar o que eu já sabia ser meu.
Desejo, Paixão, Carinho, Cumplicidade, Tudo! E um triz.
E, não por erro meu, ou acerto. Por acaso da vida, morreu.


Camila Reis 28.02.11

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Noites Brancas

Foram-se dias e mais dias mirando aquela tela fria. Sempre a mesma coisa. Ela mirava a foto e o espaço em branco onde apareciam as frases quando ele, longe, apertava o enter. Mecânico. Ela escrevia, teclava enter. Sorriso de lá. Ele escrevia, teclava enter. Suspiro do lado de cá.
Ela, morena jambo de sorriso constante e olhar brincalhão. Ele, amarelo de olhar sombrio e palavras carregadas. Ela, sempre querendo agradar. Ele, possuidor de um jeitão taciturno, cético e monossilábico.
Chovia. Ela mirava aquela explosão de cores tão brancas, fotos de personagens tão distantes e conhecidas. Tudo parecia disforme, opaco e chato sem ele. E como chovia! Ele não apareceu.
Dia seguinte. Ela termina seus afazeres domésticos de adolescente que não mora com os pais ao som de Vinícius e Toquinho. Cantarola junto com eles e pensa nele. ‘Chega de Saudade’ diziam os três. Ela, carregada de sentimentos. Não chovia, era uma noite de luar. Nada dele!
Passaram-se duas semanas sem ele. Duas semanas sem seu sorriso tão estático, seu olhar petrificado e palavras tão belas! Foram tempos escuros, difíceis. Suas noites tornaram-se negras, sem cores nem frases, sem sorrisos nem suspiros.
A lua aparecia linda lá no alto. Banhava seu quarto com uma luz de surpreendente beleza. Branca. Ele não sabia como dizer, como assumia tal absurdo? Ele senta e liga sua máquina abençoada que lhe trouxe a presença dela. Duas semanas de um mesmo ritual: Senta, liga, pensa, desliga.
Não aquele dia! Já bastava! Era ou não um homem crescido? Ligou novamente sua bela amiga fria. Disse a ela muitas vezes antes de conseguir escrever o que sentia. Pensa. Escreve. Enter. Um sorriso do lado de cá. Um suspiro do lado de lá. E como a noite estava bela!


2007

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Página em branco na vida de um ser é nascimento. Primeira palavra já soa como conseqüência de ínumeras frases somente pensadas, modificadas e soltas como murmuríos, gemidos, ruídos aos ouvidos insensíveis. De paz chama-se a vontade de guerra. De violência chama-se a ação de buscar. O raciocínio e a vontade não passam de primeira palavra aos revolucionários reais. É a Paz Silenciosa que reina nos corações guerreiros escondidos hoje em dia. Escondidos da censura social.
Por que a exclusão de nobres almas do passado? Penso que hoje é condenado qualquer tipo de reação ao reacionário. Isto porque a esquerda e direita se mesclam protestando juntas por um mesmo poder. Já não há mais uma verdadeira intenção de mudança. São uma mesma nação, um mesmo povo, um mesmo lado. Se há moeda? Talvez dentro de um saquinho bem guardado no bolso interno do manto do frei. Robin Hood já morreu e não mais perduram suas lendas. Lendas que morreram após o primeiro mês de outono.
Entristece-me ver o novo sem herói. Pior que pensava, entristece-me mais ver o novo com heróis de moda. Sim, pois hoje os heróis morrem a cada estação. Como para Vivaldi, o vento que sopra no inverno, morre no verão. E se a paz mora no outubro, a guerra nasce no abril. Compreensão, Resignação e Comodismo foram os últimos três heróis que assisti por mais de uma época. Hoje a lei é o narcisismo. Dorian pede passagem e pinta meninas de doze anos vestindo minissaias. Não por ser confortável, mas pela beleza das pernas bem torneadas a fazer inveja em senhoras de vinte e cinco. Cumprimenta donzelas de quatorze e se deita com Senhoritas de dezesseis. Aos quarenta elas se casam, pela quarta vez, aos cinquenta estão todos mortos. Afinal, pra que as flores no caixão se não para adornar algo ainda mais belo? Por isso, morra na primavera.
Creio termos entrado numa era em que tudo se aceita, tudo se renova em pouco tempo e é aceito o mais novo que o novo. Que loucura! Diria à Paz que se esconda. Quando lembrarem-se de sua época, se é que é verdade mesmo essa história de que boas tendências costumam voltar, ela estará perseguida por milhares, milhões. Mas não acredito que hajam merecedores hoje em dia. Não julgo por eles, mas por mim a escrever essas linhas tortas , desconexas e inexatas.
Vejo amanhã um hoje que é mais ontem que o mês que vem. O tempo passa mais rápido pros que buscam pará-lo, o tempo não passa pros que não ligam pra ele. Esse mesmo tempo se mostra inexistente para os descrentes do futuro. Afinal, estamos na época do AGORA, do hoje e da revolução. Mas que revolução mesmo?
Lutar? Crescer? Pra que se podemos só viver? Sejam bem vindas as quatro estações, o tempo e o mundo do agora. Esqueçam o amanhã, o ontem e vivam o que dá tempo, depois se vê no que dá.
As Épocas morreram com os heróis. As fases se foram com Vivaldi e seu vento. Robin Hood levou os valores e o Frei , de bom que era, nos levou as riquezas. Vivamos então esse tempo de mesmice, novidade igual e falsa revolta.Que descanse em paz a pobre Paz dos Justos.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Um poema à História

Um ambiente calmo, é o que qualquer um diria após uma breve passada de olho naquela praça de folhas verdes e vivas, flores vermelhas e balanços recém pintados e muito bem cuidados. Pedras brancas circundavam as árvores, pedras cinzas os brinquedos e coloridas os banquinhos. Uma praça, um parque, o ambiente perfeito para se passar o olhar e imaginar filhos, companheiro, amigos. Boas lembranças de algo que ainda não passava de planos, assaltariam a mente de qualquer um com um pouco de sensibilidade.
Sem muito esforço, notava-se um pouco de descaso quanto aos pais e as crianças pequenas, traindo segurança previamente conhecida. Os bebês em seus carrinhos tão bem cuidados repousavam sob olhar de avós corujas que, debruçadas nos puxadores, já os viam grandinhos, a brincar de pique com os irmãos entre aquelas belas árvores.
Naquela tarde, haviam dois rapazes, uma moça e um cão passeando pela praça. O grupo se aproximava de um dos bancos laterais, afastados do resto. O rapaz mais baixo, de mãos dadas com a mocinha, comentava algo enquanto jesticulava com a mão livre abrangendo todo o parque. O mais alto parecia totalmente desinteressado no que era debatido e olhava para o cão enquanto este o acompanhava de perto, com os passos sincronizados ao do dono.
Os quatro caminhavam sem pressa, observando o verde , as crianças, a tranquilidade e tudo que a praça havia pra mostrar. O mais alto se afastou um pouco dos outros dois, passou apressado com o cão em direção à um dos balanços. Sorriu para uma criancinha que brincava, deixou que esta fizesse carinho no cachorro que, contente, balançou o rabo enorme e peludo. O casal, sentado no banquinho, trocava olhares apaixonados, sorrisos e confidências enquanto o amigo e o cãozinho chegavam ao destino. Pararam perto de uma árvore e o rapaz se sentou, chamando o cão para sentar-se próximo.
De dentro da bolsa, o rapaz tirou um livro e abriu. Leu descompromissado um poema:
Umas pedras chutei enquanto caminhava
Antes não o tivesse feito, eu pensava
Logo depois de chutá-las apressada
Queria tê-las colhido. E caminhava.

Três sorrisos e um latido, teria pra contar
Aquela pedra ali deixada, pobre coitada!
Falaria de montes verdes, passos felizes!
Ah, o mar! Queria tê-la jogado no mar.

Sete ondindinhas e uma criança a brincar
Teria a pedra, pobre pedra, a contar.
Se não a tivesse chutado , descaso!
E voltado a caminhar...


Sorrindo ao cão, recebeu um latido baixo e amigo como resposta. Olhou o casal de amigos um pouco mais distante. Tomou do chão uma pedrinha. Mirou certeiro e acertou entre os dois, ainda sorridentes. A menina lançou-lhe uma careta despreocupada. Procurou em seu bolso um lápis e ao livro acrescentou:

"Se a escolha fôsse minha,
Escreveria um poema
Falaria da pedrinha
de histórias mil.
Pequena!"

sábado, 19 de abril de 2008

Se o tempo não vai mais voltar...

Dia claro de sol animado despontando no céu azul e ela já estava impaciente. Às vezes nem mesmo ela sabia porque sua ansiedade, mas a mantinha e alimentava como algo indispensável à vida. Andava de um lugar para outro a roer as unhas que lhe restavam. Com olhar apreensivo, mirou-me deitado ali como a querer absorver algo da minha calma.
Continuou seu caminho pelo corredor , mirando sempre a janela. Acho que viu algo que chamou atenção, chamou meu nome e foi andando para o quarto. A segui até a porta e esperei por ali. Logo ela saiu me chamando, pedindo que a acompanhasse até a esquina, precisava fazer algo e estava atrasada.
Pensei: como ela poderia estar atrasada se acabara de resolver que tinha algo a fazer? Me empertiguei após o carinho recebido e abandonei a questão, seguindo-a pelo caminho que me mostrava com a mão estendida. Tive que correr, pois seus passos eram cada vez mais largos e apressados traindo a urgência da qual me falara havia pouco.
Chegamos à uma esquina que nunca havia visitado com ela. Olhei à minha volta e sequer me lembrava daquelas ruas. Como se não bastasse, não lembrava também como chegara até ali. A pressa imposta aos nossos passos parece ter tirado parte da minha atenção ao caminho.
Estávamos então à esquina de uma praça verde de balanços, árvores, crianças brincando e pais sorrindo da beleza dos filhos. Um pouco distante, estavam três rapazes portando um violão , toalhas de mesa e alguns quitutes dos quais tentei absorver o cheiro. Parecia bom. Pensei um pouco e não consegui notar nada urgente a ser feito ali. As pessoas pareciam felizes, as árvores bem cuidadas e os ventos traziam a paz. Foi então que senti um puxão forte e voltei a seguí-la, cada vez compreendendo menos.
Paramos em frente à um banco ao fim da praça. Embaixo de uma bela amendoeira, sentamos. No banco ao lado, um senhor lia algo parecido com um tijolinho de meio fio. Era um livro grosso de páginas velhas e capa cinza. O senhor , calmamente, intercalava sua leitura à passada lenta de olhares sob a praça e seus transeuntes contentes. Me levantei e olhei pra ela como que pedindo permissão para dar uma volta. Seu olhar perdido me pareceu um sim. Levantei e caminhei.
Um menininho topeçou à minha frente deixando tombar todos os brinquedos que carregava empilhados em seu bracinhos pequenos e frágeis. O pai se aproximou e lhe pediu calma com os brinquedos. Colocou um em seus braços e disse-lhe que voltasse depois para pegar os outros. Ele ficaria ali de olho neles por seu filho. O rapazinho, ávido por brincar logo com todos os carrinhos e bonecos ali deixados, correu até seus irmãos deixando o primeiro da pilha e, correndo, voltou para buscar o resto. Ao se abaixar apressado, perdeu o equilíbrio e caiu sentado. O pai, sorridente, lhe pediu mais uma vez por paciência. "Filho, os brinquedos não vão fugir. Pode ir devagar, você tem toda uma vida para levá-los e aprender como funcionam quando combinados aos de seus irmãos."
Dali mesmo , olhei para ela. Ela sorria abobada olhando a vida e finalmente compreendi sua pressa. Era medo. O tempo podia não voltar mais e ela jamais saberia que os livros velhos se tornam cinza e as crianças tem pressa de brincar.

sábado, 12 de abril de 2008

Classificados

Olhei a minha volta uns trinta segundos antes de me sentar. Havia ali ,a frente da poltrona onde estava, uma mesinha de centro, uma rosa repousava dentro do vaso azul combinando com o sofá à esquerda da estante com tv, rádio, uns livros e uma bola de futebol americano disposta num suporte. Num canto qualquer, uma mesinha de telefone com muitas canetas e alguns recados. Uma salinha normal era o que parecia.
Após me sentar, respirei procurando absorver o ar do ambiente e ouvir o que ele tinha a me dizer. Os ares traíam hospitalidade, risadas e amigos se divertindo. Triste pensar que aquela mesinha não seria mais alvo de topadas , o sofá não riria mais com os amigos do rapaz desengonçado, a tv não mais espelharia o rosto sem graça a se desculpar com a namorada e o piso não receberia os cacos do vaso e o afago das pétalas soltas pelo tombo. Era o fim da aventura.
Sempre achei divertido esse meu trabalho, mas dessa vez me pareceu triste calcular os metros daquele apartamento, anotar o tipo de piso e o estado das paredes. Esperei por meu café sentada à poltrona cuja história estava claramente escrita em seus braços. Algumas manchas denunciavam festinhas particulares, um rasgo próximo ao pé, traía a presença de um cão de dentinhos nervosos, brincando a esperar pelos donos e sua confortabilidade trazia anos de uso para o descanso enquanto um de seus donos lia um jornal ou revista antes de sair para a faculdade ou trabalho.
A mocinha me trouxe o café e , sorridente, pediu que a acompanhasse; me mostraria o resto do apartamento. Andei acompanhada pelo som daquela voz que detalhava cada metro quadrado por que pássavamos e explicava as marcas de mão na parede, um tanto sem jeito. Não prestei atenção em absolutamente nada do que ela disse. Se registrei algo, foi por puro costume da profissão de arquivar informações automaticamente. Paramos no primeiro quarto.
Uma cama, um armário de quatro portas embutido e uma caminha de puxar claramente feita separada da cama. Notei um criado mudo com alguns pertences ainda espalhados _ uma caixa ao lado ,pronta para abrigá-los _, uma bandeira de um time inglês que não reconheci pendia do teto servindo de enfeite. No outro quarto, uma cama de casal, um colchão de solteiro embaixo dela, um armário de seis portas e duas mesinhas ao lado da cama. Um quarto simples senão pelas bandeiras de mais dois times ingleses, uma a cada lado do quarto.
Na cozinha, nada ficou. Na área, alguns traços de churrasco recente, provável despedida dos amigos da casa antiga. Alguns pratos descartáveis repousavam dentro de uma caixa de papelão ao lado do tanque , confirmando minha suspeita. Voltei à sala e achei o cachorro dono das mordidas no sofá, o rapaz das manchas de cerveja na poltrona, o namorado culpado pelas marcas de mão na parede e pelo vaso colado em cima da mesa. Ali, buscando as últimas caixas e encaixotando os últimos pertences, estavam os antigos donos da casa. O cachorro, solto da guia pelo rapaz maior, veio me saudar. Me cheirou as canelas e saiu abanando o rabo, mostrando aos donos que eu era confiável, pelo menos enquanto ele estivesse por perto.
Notei que meu trabalho ali havia terminado, as últimas caixas saíam pela porta e na estante já não havia mais bola, nem tv. Na mesinha, o vaso jazia sem flor e o ar que entrava pela janela era saudoso. Me levantei, agradeci aos antigos inquilinos , fiz um cafuné no cão. Ouvi um comentário do namorado apaixonado, um beijo estalado e um "Argh" do amigo. Risadas.
Sorri mais uma vez e fiz minha última anotação: "Excelente para estudantes, boa localização, boas energias."